A próxima alvorada<br> será de todos nós!

Jorge Messias

«O Partido Comunista tem definido a sua posição em relação ao problema religioso, aos católicos e à Igreja… O PCP, ainda que tendo como base teórica o materialismo dialéctico, entende que as convicções religiosas não são, por si sós, susceptíveis de afastar os homens na realização de um programa social e político comum… O Partido Comunista tem, assim, proclamado a sua vontade de união com os católicos e, na prática das suas actividades, tem demonstrado a sinceridade das suas afirmações. Nós somos contrários a qualquer repressão em matéria religiosa. E, enquanto os sacerdotes se não servirem da sua liberdade de acção para fins políticos, nós defendemos que nenhuma limitação deve ser imposta à sua actuação. A esta nossa posição de concórdia, de entendimento, de unidade, que resposta têm dado os católicos?

Há aqui que distinguir. Por um lado, os trabalhadores católicos, assim como muitos católicos progressistas, particularmente os jovens, têm compreendido a necessidade dessa união na luta pelo pão, pela liberdade, pelo progresso e pela independência; por outro lado, porém, os mais autorizados representantes da Igreja Católica têm pregado o ódio aos comunistas, aconselhando o apoio às diferentes formas de fascismo. Assim, a Igreja intervém activamente na política, colocando-se ao lado das ditaduras fascistas e contra as aspirações democráticas do povo português… («O Partido Comunista, os Católicos e a Igreja», Álvaro Cunhal, 1947, adaptação de texto).

  Tantos anos passados sobre o texto legado por Álvaro Cunhal e podemos hoje reconhecer que as suas análises e os seus escritos permanecem perfeitamente actuais.   

O alto clero continua a namorar o fascismo; e há ainda católicos, explorados e oprimidos, que aceitam o jugo de políticas que estão no pólo oposto ao que de melhor a própria doutrina da Igreja e as escrituras podem conter. Nas suas análises sociais e políticas, não foi apenas A. Cunhal que arrumou, assim, os dados de uma realidade tão velha como todo o universo da comunidade humana. Os grandes teóricos do materialismo histórico reconheceram que negar ao homem liberdade de culto, de fé e de opinião, no mundo de agora e no de amanhã, equivale a recusar toda a base ideológica por que lutam os comunistas e os outros homens honestos.

Milhões de católicos aceitam que assim é. As hierarquias religiosas da Igreja partilham, opostamente, princípios dogmáticos rígidos e fundamentalistas que ditam a condenação total do marxismo e do socialismo marxista-leninista. Sucessivas gerações de papas – a saber, Pio IX, Leão XIII, Pio X, Pio XI, Pio XII, Pio XIII, Leão XIII, João XXIII, João Paulo II, etc., etc. ) – mantiveram os dogmas das mais ferozes linhas de rumo anti-comunistas. Só as estratégias adoptadas foram mudando, de acordo com as «modas» de cada época. Mas o essencial manteve-se e está bem presente na actualidade: sim ao capitalismo, não ao socialismo científico. Como pano de fundo, o velho sonho de uma só monarquia universal cristã.

Assim, o diálogo entre comunistas e católicos foi, aparentemente, perdendo importância. Criou-se a noção, em muitos casos passivamente aceite, de que o capitalismo é fonte de riqueza dos povos e o socialismo real sonho frustrado do passado. A Revolução Mundial nunca se realizaria. A Teologia da Libertação, esfumara-se na noite dos tempos. O Papa continua, como sempre, a imperar entre os outros reis. Deus quer a pobreza dos pobres, a riqueza dos ricos, a desgraça dos desgraçados, a submissão dos escravos.

Mas o que vai acontecendo não é nada disto. Os monopólios (ou mercados) assentam e crescem sobre a mentira balofa e a mais impune amoralidade, com o apoio e participação activa do Magistério Romano. No pólo oposto, a ritmo ainda mais veloz, aumenta a miséria dos povos, cresce a tensão social e mobilizam-se os factores de uma luta mundial de classes. O homem é chamado a escolher entre amigos e inimigos. Baseados na Razão, é nossa convicção de que iremos vencer esta batalha. O capitalismo é matéria em decomposição acelerada. Pensamos e continuaremos a pensar que a Igreja institucional é na prática o oposto dos grandes valores da sua própria doutrina social. Mas também acreditamos que a próxima alvorada não é só dos comunistas mas de toda a humanidade. Em Portugal, no presente e no futuro, os comunistas têm uma importância decisiva, mas os católicos cristãos também a têm, num pé de plena igualdade.

Nesta longa madrugada que vivemos, comunistas e católicos portugueses representam uma grande força potencial onde são factores autónomos mas afins.




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